sexta-feira, 3 de julho de 2009

O sequestro da caneta

Ora pois, nobre Leitor, peço-vos mil desculpas por passar tantos dias sem aparecer por cá. Não é que perdi a graça pelo namoro, também não é por deixar de escrever, esse foi o dom que deus a cada dia aprimora com o seu escopo. Quando souberes do verdadeiro motivo que me levou a distanciar-me do mundo da escrita, certamente mangará comigo. Mas, como já somos íntimos, vou-lhes cotar até os detalhes.

A cidade que escolhi para morar, por ser calma e pacata, já não conserva nenhum desses adjetivos. Tornou-se agitada e insegura por demais. Uma onda de assaltos vem ocorrendo e nada é feito pelas autoridades policiais.

Veja você, nobre leitor, que semana passada roubaram o acento agudo da palavra Quixadá, de uma placa na entrada da cidade, ficando Quixada, os desavisados lendo, queixada. Absurdo. Dias depois, um cego a mendigar pelas ruas deu por falta de sua bengala, foi ao certo roubada. E não pára por aí. Levaram o livro que Raquel de Queiroz segura na praça que leva seu nome. Na certa, um bandido intelectual.

Todos convivem com a sombra do medo. Temendo a qualquer momento ser a bola da vez, a próxima vítima. E não é que fui uma dessas pobres criaturas a serem surpreendidas por esses insensatos.

Pois bem, vamos ao caso. Estava eu a caminhar pelo centro a cidade, despreocupado, pois ainda era meio dia, imaginava que nenhum bandido se atreveria a trabalhar naquelas horas. Pois me enganei. Fui surpreendido por um sujeito mal encarado, portando um palito de picolé com a ponta afiada a me ameaçar. Essa foi o fim. Nas grandes cidades, bandidos usam fuzil AR-15, metralhadoras e o escambau. Aqui é esse atrazo de arma, tive até pena do coitado. Com uma voz rouca, disse:
-Ei preiboy, perdeu. Passa tudo. Vambora. Num demora.

Expliquei que não carregava nada de valioso comigo, apenas uma caneta com a qual escrevia meus textos mal acabados. Sem compaixão ele respondeu:
-Passa malandro. Bota as mão nessa cabeça chata de matuto e deixa eu tirar essa caneta.

Essa foi a maior das ofensas que sofri em toda minha curta vida. Fui chamado de malandro por um marginal. E pior, com que escreveria daqui por diante? Minha caneta foi sequestrada e não tenho dinheiro para o resgate. Estou com a carreira com os dias contados.

Então amigos leitores, fica o pedido: quem tiver uma caneta sobrando, mesmo que seja velha e que de vez em quando falhe, mande para mim, pois esta que usei para escrever esta crônica, pedi emprestada ao budequeiro meu vizinho, que está aos gritos pedindo-a.

Ademais até o próximo. Volto logo.

3 comentários:

  1. Prezado Rêmulo Melo,

    Parabéns pelo seu belo artigo, pensamentos reflexivos de alto nível, que pena nossa cidade tão abandonada.

    Fabio de Oliveira
    fabioc.acoes@hotmail.com
    quixadaenoticias.blogspot.com/

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  2. kkkkkkk muito engraçado cara, otimo texto.

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  3. Risos! Eu lhe darei uma caneta. Espero que quando sair agora o Sr. deixe-a em casa, temendo ser assaltado de novo. Mas, o aconselho a levar algo que possa ser roubado, para o caso de não ser furado por um palito de picolé (coisa mais que humilhante).

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