quinta-feira, 25 de junho de 2009

Canindé

Estou a preparar uma viagem, que por sinal será muita longa, duradoura. Levará dias até sua conclusão. E nesta ousada empreitada vou levar quem quiser ir comigo. Mas, vou de imediato advertindo, que não pode desistir durante a viagem, mesmo que ocorra algum problema de saúde. Pois, esta exige muita resistência de quem a enfrentar.

Vou a Canindé, pedi as bençãos a São Francisco de Assis de Canindé, a pé. Tem que ser a pé. Na vida, tudo que ser com sacrifício, senão, não tem o merecido valor. Com o tempo, cai no esquecimento. Então, para comprovar a importância que destinei a esse tal milagre, não contarei qual, vou a pé, mesmo que sozinho vá. Mostrarei como palavra de matuto não quebra.

Convidarei um professor amigo meu, o melhor cronista do mundo, para ir comigo. Sim, chama-lo-ei porque ele tem uma cara de preguiça que só vendo. Seus passos são arrastados e contados. Até para proferir algumas palavras eles senti preguiça. Levarei uma macaca, caso ele durma, soltarei o couro esticado e seco em seus lombo, sem pena.

Para completar a romaria, convidarei um estudioso colega meu, da área da linguística. Este é outro molenga, que vive a dormi pelos corredores. Levarei para ler no caminho vários poetas consagrados, que este último amigo tanto odeia. Valoriza por demais os marginais, esquecendo as contribuiçoes de Machado de assis, Vinicius de Moraes e tantos outros para nossa literatura.

As minha bugigangas já estão prontas. Comprei uma chinela de sola, adaptada para o asfalto. Esta tem que durar toda a viagem. Encomendei ao mesmo artesão um chapéu de couro modelo Lampião. Pedi a uma costureira. vizinha minha para coser uma blusa de tergal, com mangas longas, para proteção contra o sol. A mesma senhora, atendeu a meu pedido e costurou minha calça de chita, com boca de sino. A mala, também está pronta. É um bornal de estopa, resistente e macio.

O destino final da peregrinação é a Basílica de São Francisco. assisterei a missa e voltarei na mesma pisada, na companhia de dois cabra da peste, destemidos e valente.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Explica

Uma poesia para explicar
A dor
A solidão
A falta
O nada
O tudo não merece explicação

Uma poesia para sentir
O coração bater
O suspiro falar
O corpo ranger
A pele suada
A unha cravada

Uma poesia para ver
Você
O dia
A noite
A claridade
o infinito

Uma poesia para escutar
O teu chamado
O pedido de namoro
Tua presença

Uma poesia para explicar
O que não se pode explicar
O que não se pode entender

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Piolhos

Ora, nobre leitor, estou furioso com essa malta urbana, seus hábitos e seus moradores, que inventam a todo instante um troço novo para nos tirar a paciência.

Você é capaz de me dizer onde estão as moedas do nosso país? Não, claro que você não sabe. Faz um século que não a vimos pelos nossos bolsos. A não ser que precisemos dos serviços prestados por moto taxi. Pois, aí está. Elas moram lá, com residência fixa, nos bolsos dos coletes destes leva e traz de passageiros. Eles possuem aos montes.

Minha ira começou quando precisei de uma mísera moeda de cinco centavos para interar o leite do menino, e acredite, não encontrei em parte nenhuma da casa. Fui ao vizinho, pedi-lhe um empréstimo a juros compostos, mas o colega do lado também não tinha. Sem saída, empenhei a cela do jegue ao leiteiro. Agora está sem poltrona, minha poderosa máquina .

Sem meu jumentinho, fui obrigado a recorrer a um moto taxi, e na hora de pagar o rapaz, ele saca do bolso uma sacola de moedas, de todos os valores. Instantaneamente atirei-lhe uma série de desaforos. O coitado sem entender, não respondia nada. Peguei meu troco e fui direto saldar a dívidir com o leiteiro, e resgatar minha cela. Durante o caminho, senti minha cabeça coçar, passei os dedos para aliviar a pertubação. Mas, nada fazia diminuir a agoniação. Cheguei em casa com a cabeça ardendo de tanto esfregar. Implurei para minha esposa ver o que tinha na cabeça. Escutei seu grito alarmante: PIOLHO, PIOLHOS. Nobre leitor, fui contaminado por uma multidão de piolhos famintos, que sugavam meu sangue pouco e fraco, advindo do capacete do desgraçado moto taxi. Aquilo me deu uma raiva. Joguei toda espécie de praga que conhecia no motoqueiro.

Hoje, ao meio dia, escutei do rádio uma notícia que avisava o fim do uso do capacete no perímetro urbano.

Bem que essa medida podia ter acontecido antes de eu ter sido infectado. No mesmo momento fiquei indeciso, quanto a obrigação do uso para transportes de quatro patas. Teria que deixar de usar meu chapéu de couro ao desfilar pelas ruas da cidade com meu lazarino?

Volto a andar a pé, com minha chinela de pneu e pronto. Quero ver quem vai me multar.

Ademais, até logo, e volta já.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Velha Mansão

Tudo estava estático a escuridão dominava cada canto da sala e os demais espaços vazios daquela assombrada casa de passado obscuro. Os moveis tinham aparência destruida e cores sombrias, aumentando ainda mais o aspecto da residência

As pessoas que lá moraram adquiriram com o tempo o mesmo tom sombrio envelhecendo juntamente com o decorrido das horas. Havia um cheiro de defunto pelos corredores, sons misteriosos povoavam o recinto peculiar.

Ela estava bem ali. Sempre estava no mesmo lugar. O escuro caminho de acesso espulsava quaquer aprendiz dedestemido.

Nunca chegara luz. Claridade não combinava com o ambiente. Ela foi construída com a sombra do pesadelo.

Um dia um casal recem-casado chegou para morar na casa. Comprou mesas novas, armário, cortinas, consertou a estalação hidráulica. Mas, não demoraram duas semanas. A mulher morreu de pneumonia e o homem enlouqueceu. Foi o fim da segunda recente família que se atrevia a desafiar os mistérios da casa.

Um mendigo também tentou habitar a velha mansão. Mas, por apenas uma noite. Amanhecera morto, enfartou no meio da matrugada. O curioso era que seu rosto tinha expressão de espanto.

Ninguém sabia ao certo o que aquela casa tinha de desconhecido. Os moradores da pequena vila inventavam estórias de fantasmas dos primeiros donos; outros diziam ser a casa dominada por extra-terrestres. As suposições eram muitas. O fato era que nenhum ser conseguia vencer a casa.

Foi erguida no tempo do segundo reinado. Era uma construção imperosa e rica para a época. Seus primeiros donos eram da casa do Imperador. Todos admiravam a gigante obra. Todo o vilarejo se agitava durante a empreitada. O requinte era soberbo. Detalhes na fachada foi esculpido por artista vindo da França. As portas eram repletas de detalhes entalhados na madeira Pau-Brasil. Sua altura parecia que alcançaria as nuvens.

Mas, com o tempo, o edifício perdeu seu brilho e seu encanto. Restou a escuridão das paredes encardidas e a nostalgia da lembrança.

O passar dos dias corroia pouco a pouco a estrutura, que agora demosntrava sinais de ruínas. O prédio convaslecia, como seus donos convalesceram.

Tempo bom é o que virá. Viajar em pensamentos e viver comos errantes.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A partida

Condição lamentável essa de ser Quase, ainda mais quando depois do quase, vem o adjetivo poeta. Temos que fazer da nossa dor, motivo de inspiração e satisfazer poeticamente quem nos lê. Dá luz aos olhos e a imaginação. fazer voar os sentimentos por entre nuvens de formatos diversos. Ter a obrigação de emocionar casal recém formado em dias dos namorados.

Mas, ainda vou voltar, sei que um dia vou voltar, para meu tranquilo e sereno sertão e assumir novamente minha sina de matuto. Tirar do prego o chapéu de couro e a tardinha ganhar o mato à procura da rés perdida, e voltar já escuro puxando o cabresto, vitorioso e de peito inchado.

O sertão guarda consigo deveras aventuras e hábitos que só ele pode dá à vida prazeres distintos. Só vivendo nesse universo para conhecer tantas proezas juntas. E verás como nada disso é invenção. Quando puder, prometo que levo todos os meus leitores para lá. Tomarão leite no curral, bem quentinho, mugido na hora, com espuma. Depois seguiremos para o riacho e tomaremos um banho delicioso sob as águas caudalosas do Mearim.

A noite, sentar no alpendre e jogar conversa fora por horas perdidas no tempo. Chega um vento frio vindo das banda do Aracati, que às vezes anuncia chuva próxima.A iluminação à querosene deixa o ar mais campestre. Para ajudar no combate ao frio, pega-se uma tanga de rede, grossa e aveludada.

Depois que finda o final de semana, tudo volta ao curso normal. Inclusive a rotina, intediante. Acordar cedo e ter que tomar banho de chuveiro, a água tem sabor de q'boa e deixa o cabelo grosso e a pele ressecada.

Amores vãs. Prazeres também vãs. Na vida tudo passa e o que fica é a saudade. Sentimento que somente nós, latinos sentimos, com tamanha intensidade que chega a doer. Corroendo por dentro, deixando marcas.

É como lembrar da namorada que se foi sem disser adeus. Ficando apenas a lembraça e a dor da ausência. Malvada, se foi e nem deu tempo para me despedir, e levou minha alegria, sem deixar vestígio. Mas, superarei, como outras lembranças foram lembradas. Quando vencida, voltarei para o meu recanto e cantarei a aventura que foi viver longe de minha terra.

Ademais, um aperto de mão e até mais vê.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Carnaval

O carnaval está chegando. A alegria também. O povo todo vai para a rua, o bloco vai passar e arrastar a multidão. Os rapazes solteiros vão à procura de columbinas também sem ninguém. É a festa mais popular do mundo, mais democrática. E todos estão convidados à participar, sem recusas.

Minha fantasia está no varal a cotejar, na expectativa da passagem do arrastão. Meus sacos de gomas já foram comprados na butega da esquina da minha rua. Minha namorada já mandei ir embora, pois no carnaval ninguém é de ninguém. Irei sem lenço nem documento para a rua do Matacavalos, saudar o poeta marginal, e cortejar a vizinha.

A turma toda está se preparando para o carnaval. Mas eu irei sozinho, sem ninguém, acompanhado unicamente de minha irresponsabilidade. É carnaval, vale tudo para ser feliz.

O frevo está tocando, a garota pula sua coreografia e desce a ladeira com a sombrinha. Fico imaginando meu tempo de criança através daquele fervilhão de cores. Cores que claream nosso dia a dia.

As ruas vão se povoando de alegria. O riso fica fácil. As portas dos bares vão sendo baixadas e seus donos rumam para suas casas trocar de roupa e ver o bloco.

Pena que o bloco não espera por ninguém. Quem dormir ou estiver num canto escuro a namorar, vai deixar de ver e acompanhar.

Eu, por nado perco a descida do bloco. Ainda era manhã e já estava na concentração para a aparição.

Mas, na vida tudo tem um fim. E com o carnaval, não é diferente. Ele também acaba. Na quarta-feira de cinzas, tudo está de novo em seu devido lugar. A ordem é restabelecida. Inclusive a monotonia, a repetição do cotidiano.

A vida perde o ar frívolo, que não deveria deixar de existir. Assim, haveria menos depressão. Seríamos mais humanos. Findado o Carnaval, voltei, agora é pra ficar.

Procurei minha namorada. Reatamos o namoro. A vida.

Tudo de novo.

O próximo vai chegar. Já estou esperando. E quando acontecer, largo novamente o laço, e torço para não ser largado.

Compra-se vergonha na cara

Ora pois, nobre leitor, já que insistes na contação, vou lhe confiar o trágico fim de meu último namoro. Você é capaz de imaginar do que é capaz um mulher estérica, tomada por uma crise de ciúmes, ao ver seu namorado a conversar sem maldades com uma senhora pelas ruas despreocupadamente? Pois, leia com atenção e não vale sentir pena ou me xingar.
Como falava antes, estava eu a caminhar com uma senhora, colega de trabalho pelas ruas da pacata cidade de Quixadá, sem nenhuma preocupação com o tempo ou coisa semelhante, eis que encontro com minha namorada possessa de raiva e desconfiada de que aquela pobre madame, que já passava dos cinquenta, fosse minha amante. No momento em que seus miópes olhos me detectaram, não foi outra ação dela, a não ser partir pra cima da gente golpeando sem medir, nem mirar onde e quem acertasse. Minha única, ação, se é que houve alguma de minha parte, foi pedir para parar, que ela estava equivocada.
Então, os ânimos se acalmaram um pouco, os delas é claro,. O route de pancadaria também cessaram. Ai, começou a sessão palavrões, foi nome que nem mesmo meu seleto dicionário matutino de cearense pôde decifrar do que ela me elogiava. Formou-se, em torno da gente um público de não menos, quarenta pessoas, e olhe, nem pagaram ingresso, para ver minha tragédia, acreditaria que nem mesmo Édipo Rei faria tanto sucesso.
Mas, como tudo na vida passa, ido embora, minha ex, que naquele momento disse que não me queria mais, pedi desculpas a colega e me ofereci a acompanhá-la até sua casa, antes é claro de perguntar se estava tudo bem com a pessoa dela. Ela, educadamente disse que não precisava, e foi-se sozinha,
Eu, Fui calmamente para casa. Ainda bem que morava sozinho, como hoje, e curtir durante horas aquela dor, insuportável no lado direito do meu rosto, que ardia sem parar. Junto com a dor veio a raiva de injustamente ser agredido e exposto em praça pública. Que descontrole.
Acho que você, curioso que é, está se mordendo para saber o que aconteceu depois. Ora, Nobre Amigo, é preciso ter muita cara de pau, para fazer o que eu fiz depois de todo esse acontecimento. Passou-se um ano e eu separado dela. Mas, com esse tempo distante, parece que ela se renovou e ficou ainda mais bonita. Ao vê-la semana passada, me ocorreu uma vontade imensa de voltar a namorá-la. E então, surge uma luz, descobri que ela estava solteira, quebrei o orgulho e telefonei, pedi para conversamos e ela aceitou, então hoje resolveremos todo esse acontecimento de uma vez por toda, nesta noite. Peço que torça para mim.



Esta crônica foi escrita a oito anos atrás. Por isso não fiz nenhuma correção semântica ou ortográfica.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Entre quatro parades

Há coisas na vida da gente que ficam guardadas num cantinho esperando algo para se revelar. Como expressões, às vezes maliciosas. Pois eis uma que me tocou profundamente devido as circunstâncias e ao fato ocorrido. "Entre quatro paredes", Essa já virou jargão entre os amantes do sexo selvagem, servindo para a justificativa da transformação durante o ato. Mas, há certos equívocos na triste vida de um matuto como eu, dos autêntico, que coloca esses paradigmas em xeque. Pondo à baixo toda a estória construída nas relações amorosas.

Vou lhes contar o acontecido com esse cabeça chata, que vive no mundo da lua, à caçar sonhos perdidos e impossíveis. Dias atrás fui agraciado com uma casa novinha em folha, só esperando por mim, e mais a cambada de gente que me acompanhou; pois bem, continuando, fui conhecer a bendita mansão, olhei quarto por quarto, o quintal, a cozinha e depois de examinada a qualidade da construção fui-me embora. Dois dias depois volto de morada, de malas e cuias, como diz no meu interior. Durante a noite, enquanto tinha uma terrível dor de casa e por conta disso não conseguia dormir, fiquei a pensar, porque existo, e um negócio ficou a bater incansavelmente na parte semi-plana da cabeça. Minha casa não tinha quatro paredes, como as casas que conhecia, as normais que sempre via e entrava em algumas delas para tomar um copo de leite mugido na hora, pelas vizinhanças. Minha casa tinha cinco, uma a mais. Olhe onde me meti. Logo eu que sou ruim com os números. Já achava quatro muito, agora cinco, é um exagero, sem tamanho. Meu conhecimento de contação só permite contar dedos, e se estiverem desocupados.

Mas, tudo bem. Dá-se-a um jeito nessa contagem, pedirei ajuda para os universitários de plantão disposto a ajudar um jeca, que mal sabe escrever um ó de cócoras. E tão logo receberei o auxílio, me tranquilizarei.

Minha dispeita com os números vem desde de criança, dos tempo de disputa por bilas e carteiras de cigarros (simbolizava dinheiro). A briga era grande quando alguém sentia que estava sendo passado para trás. Pontapés, socos, chutes, e mais todo tipo de golpe era deferido durante a discussão. Mas, sempre fui quieto. Quando duvidavam de mim, entregava de imediato o objeto, sem espaço para intrigas ou coisa semelhante. Hoje, depois de grande e velho, me encontro em um novo impasse com os números, tendo que me valer de um sábio da modernidade para me tirar desse vexame.

Não me entrego assim tão fácil. Vou tentar, sozinho chegar a uma conclusão e solucionar o problema. Fiquei a miolar com o crânio, bicho-preguiça, funcionando lentamente, a passos de formigas.

O dia já mostrava as primeiras fagulhas de sol batendo na janela do meu quarto. De repente, a solução: derrubar a quinta parede, ficando tudo igualzinho a todos. Até minha dor de cabeça foi embora. Assim pude dormi tanquilamente, só acordando ao meu dia.