terça-feira, 26 de maio de 2009

O último Pau-de-arara

Nobres Leitores do meu coração, tenho uma boa notícia a dá-lhes; conquistei o sofrido mérito da casa própria. Nunca mais vou pagar aluguel e ter que dá satisfação do cuidado da casa do dono. No dia do pagamento sempre é aquele ritual, às seis e meia em ponto, lá estava o maldito carrasco a esperar que eu acordasse e levar o suor do mês inteiro. Mas, de hoje em diante posso dormi até mais tarde nos dias 10 de cada mês e nem os terríveis pesadelos que antes tinha, quando o dinheiro estava em recesso, não terei mais. Bato no peito orgulhoso e grito bem alto, moro em casa minha. Pois bem, aproveitarei o causo e vou narrar o acontecido no primeiro dia que adentrei na minha mansão.

Era quase meio dia, hora em que as almas lá no sertão vão visitar os solitários, mas aqui na cidade não tem, graças a Deus. Mesmo sozinho entrei não receie e venci o obstáculo do medo. Cabra macho do interior que sou, honrrei a cabeça chata que herdei de papai e entrei corajosamente na espreita e com olhos de gato espantado para algum eventual risco que viesse a ocorrer-me. Tudo tranquilo, nenhum mostro se aproximou de mim, ou mesmo uma sombra maligna veio tirar meu sossego.

Passado o susto, tratei em me tranquilisar. Fui conhecer a casa por inteiro e nos mínimos detalhes. Entrei no primeiro quarto, sai direto para uma despensa que dava passagem para um outro quarto, talvez para empregados, que dava passagem para uma área aberta e sem telhado. Continuei a caminhar pelo vale de cômodos que me aguardava. Eram tantos que me assutei. Teria que chamar o corpo de bombeiros para a limpeza ou talvez o exercito.

Ainda caminhava, me via agora num labirinto, perdido. Comecei a ficar nervoso. Receie nunca mais encontrar a saída e morreria de fome e sede na minha própria casa, que tanto batalhei para tê-la, economizando moeda por moeda, tendo que matar um leão por dia, me via ameaçado por essa ingrata, tanto dedicação para nada.

Sentei-me no canto de uma das paredes alvas, como o céu. O suor escorria pelo meu rosto feito cachoeira. Minha respiração funcionava imitando a de um cachorro. Também pudera, um matuto nascido e criado em casa de taipa de dois vãos, como é que se localizava num castelo daquela magnitude. Achei até normal a estranheza. Sentia falta do fogão a lenha, o cheirinho bom da fumaça a entranhar na roupa, a paisagem da capoeira na frente da casa. O burrico a relinchar ao pingo do meio dia. Acordar de manhã cedo para pegar água na cacimba. Não haveria nada mais disso. Passarei a viver trancafiado entre essas paredes e o portão da frente sempre com o cadeado passado a chave. Ficaria apenas a lembrança dos tempo idos no sertão, agora vividos apenas aos sábados e domingos. Mas, me acostumarei.

Passado o estado de transe, me encontrei deitado no chão da cozinha a delirar com um febrão. Com muito esforço enxuguei o rosto e levantei-me. Com os olhos rasos d'água segui em direção a sáida. Tomei o rumo da rua e peguei o pau-de-arara direto para minha terra.


Dedico esse texto a um homem exemplo de dignidade e força de vontade, capaz de fazer qualquer coisa para seus semelhantes. José Luís de Melo.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Caros leitores, passarei esta semana sem postar textos. Estarei inteiramente ocupado com a minha casa, uma reforma maluca. Assim, logo que acabar, no máximo quinta-feira, estarei novamente escrevendo, todos os dias.

Abraço e já me sinto com saudade.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Até o fim ( Desabafo)

Hoje decidi me livrar dos velhos incalcos que me perseguiram durante anos a fio sem trégua. Fui vencido pelo cansaço. Pela dor de me ver a tantos dias sem a doce companhia de alguém. Livro-me de uma vez e nunca mais tenho de voltar a ver se alguém veio me visitar na minha única solidão. Prefiro minha ausência. Assim, sou feliz, do meu jeito. Da forma que me aprouver. Não sinta com isso culpa e obrigada a vir me ver. Faça o que tem vontade, mesmo que está comigo não seja o querer seu mais profundo.

Já me acostumei com a minha própria sombra. Ela me faz rir de madrugada quando tenho insônia e minha cabeça dói, uma bola de basquete lateja dentro dela sem trégua. Fico nervoso e peço para que ela não me abandone, pois só me restou ela. E me diz; Não seja assim tão manhoso! A dor é somente minha, por isso não divido com ninguém e mesmo se quisesse não poderia.

Vago sozinho perambulando pelas ruas, na noite avançada. Sozinho que sempre fui e serei. Não me assusto com a presença de seres de outro mundo. Sinto-me integrante do lado diferente da vida. Prefiro o anonimato, para não ser confundido ou comparado. Sou único, como minha dor.

Uma pessoa me para e pergunta: sente alguma coisa? secamente respondi, claro e você não sente suas pernas, seus dedos, seu coração? Fui brutalmente atacando a pobre criatura que me prestava auxílio. Talvez a ausência de carinho no meu corpo e na alma tenham me tornado esse ser duro. impenetrável.

Mas, continuo na existência.

O orgulho me toma por inteiro e peço a dó de ninguém. Não quero. Viverei assim, até os ultimos dias de insignificante existência.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Um sopro de vida

Ele estava no canto da sala vazia à espera Dela, que demorava sem prenúncio de sua chegada. Enfiara a cabeça entre os joelhos tapando os ouvidos e privando seus doces olhinhos de espanto do mundo que o rejeitara. Bastante tempo fazia que se encontrava imóvel naquele postura, no escondido, de si mesmo. Mas não desistiria, uma hora dessas ela surgiria como a fênix e o levaria para um lugar confortável, repleto de luminosidade. Só seu. Seria o próprio Rei do castelo onde morava.

Durante a manhã passada mendigou atenção pelas ruas, sozinho, nada. As pessoas perderam o precioso dom dado por Deus, o Olhar. Muitos viam-no, mas não o enxergavam, sendo mais um a perambular e completar a corja de esfarrapados de moribundos das calçadas.

Esperaria mais um tempo. Era compensador a volta Dela. Podia esperar a vida inteira, até o último derradeiro instante de luz para tê-la novamente. Mas ela se recusava a voltar, como se recusou a amá-lo. Deixou-o jogado sem ninguém para o defender ou confortá-lo.

Nascera numa noite de chuva forte. Várias casas completaram-se com água barrenta. Estradas foram cortadas pela força destruidora da correnteza que assolava tudo.Talvez, isso seria uma anuncio do que estaria a acontecer com o pequeno. Fora fruto do pecado, de uma gravidez indesejada, descuido daquela mulher da vida que desaprendia dia a dia o ser mãe, e fingia a existência do menino, indefeso. não foi sua a decisão de está ali.

Desistira de esperar. Ela não viria mais apanhá-lo. Deixara-o já sabendo seu destino, entregue nas mãos do Criador. Ele entendeu tudo com o último olhar da mãe o motivo de sua deixa e sua frase derradeira: -Mamãe já volta. Não precisa ficar com medo.

A partir de agora seria mais um moleque criado pelas ruas. Filho do caos e da falta de humanidade.

Suas pernas finas e fracas tremiam. Não suportariam mais uma leva de tempo e maus tratos. Sua visão desfalecia lentamente até perde-se totalmente. O corpo não aguentou mais. Caiu, gemeu e por último suspirou.

terça-feira, 19 de maio de 2009

O Vento

Foi sem você
Que pude entender
O tão sozinho estava
E vazio de ser

A arvore da vida
Guardou-me o destino
E reservou o teu colo
Para sempre meu

Não fujo mais
Não me escondo mais
Estou sempre a te esperar
Mesmo que distante esteja

Mesmo no silêncio escuto
Tua voz a me chamar
A voz do coração a clamar
Ao teu lado estar

Fico observando o caminhar do tempo
Até perceber o que se perdeu


Fico esperando o vento
Trazer notícias do mau tempo
Que chegou anunciando a tempestade

A tempestade que foi sem você



Poema dedicado aos amantes incondicionais.
Kildery.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A Fuga

Atendendo aos pedidos de centenas de leitores enlouquecidos, vou lhes contar o divertido e curioso causo acontecido com esse matuto que vos escreve. Faço, porem, uma advertência, ao final não me chame de mentiroso ou de maluco.

Há dias que não devemos existir. Não pense que sou pessimista com a vida fiel leitor, é que às vezes ocorre tamanhas atrocidades em um único dia, que mesmo um jeca temente a deus, enfraquece suas forças de luta. Puxa o tamborete,se abanque e escute essa breve narração que me ocorreu.

Certa manhã acordei com a barriga chamando não sei por quem, pois não entendi nada. Sentia um enorme vazio. Ocorreu-me uma pena tremenda das minhoquinhas que lá crio. Recorri a geladeira com a esperança de salvação e aplacar a desnutrição. mas, o caixão com ar refrigerado, também se encontrava vazio. Levei as mãos à cabeça e roquei ao Todo Poderoso. Sem solução

Fui ao supermercado, o mais modernos da cidade. Mas, com qual dinheiro pagaria as compras? Fácil, pensei eu, na ilusão de convencer o caixa, um sujeito mal humorado, de que havia esquecido o cartão de crédito em casa. Levaria os mantimentos e voltaria com o tal cartão. Nada de acordo com o moço. Pedi para chamar o gerente. Ele veio com uma expressão de matador. Não me diminui. Também sem negociação. Propôs que ficasse com com minha camisa de chita novinha em troca dos alimentos. O tal supervisor parecia ouvir uma piada bem engraçada. Disse que para eu levar a compra, me deixaria ficar apenas com a cueca, que não servia para nada, até o elástico estava morto. Não hesitei, entreguei tudo e me livrei do horrível suga-suga com as sacolas empunho, uma na frente e a outra atrás.

Caminhava contente quando uma multidão se formou bem na minha frente a falar um idioma que eu não entendia. Também pudera, o que aprendi na escola mal dava para fazer um ó de cócoras. Entendi que eles chamaram algo de reforço ou captura. Fiquei sem saber o que fazer diante daquela situação. Esperei. Derrepente, uma espécie de viatura espirrou nos meus pés descalços, nem a alpergata de pneu o gerente deixou passar. Notei que aguele carro estava alí por minha causa. Nele estava escrito: Patrulha de animais selvagens. Depois de lido e compreendido, acalmei-me, pois conclui que não era para mim.

Continuei a caminhada em direção a minha toca. Quando passei pelo camburão, dois enormes monstros me agarraram pelo pescoço e pelas pernas e me jogaram dentro do porta malas junto com outros bichos. Fiquei inquieto. Perguntei qual era a acusação e nada deles responder. O carro partiu em disparada nos jogando sobre as paredes do veículos. Certamente me sedaram, pois só acordei na semana seguinte com um junta de veterinários em minha volta. Tentei estabelecer comunicação. mas ele não entendiam.

Chegou o que parecia ser um cocho com restos de comidas e deramn para eu comer. Terminada a refeição, me pegaram pelo braço e levaram para junto de outros animais. Aproximei-me de um avestruz com cara de amigo e perguntei sem esperança de resposta. -onde estava? ele repondeu; -Você está num asilo para animais com distúrbios mentais.

Mas logo eu, que sou tão equilibrado, pensava até então.

Fiquei cada vez mais amigo da ave. Ele me convidou para fugir daquele lugar, até já tinha plano, nem pensei em recusar. Preparei-me e na hora marcada lá estava à espera e preparado para a fuga.

Caro leitor, peço que depois de tamanha aventura esteja você torcendo para que tenha dado certo meu plano e me tornado novamente livre e normal.

Conseguimos escapar do refúgio de lunáticos.

O jornal da noite anunciava um absurdo, vejam se é possível: Dois pacientes do hospício Freud II, fugiram nesta madrugada. Alertamos a comunidade que eles são extremamente perigosos.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Interatividade ao máximo

Hoje, acordei no meio da noite assustado com o sonho que tive e com medo de que o mesmo viesse invadir minha pobre realidade debilitada pelos percalços da rotina, que não são poucos, só conhecendo-os para entende-los. Então vamos ao sucedido.

Durante todo o dia que se passou, só escutava ou mesmo via, notícia, que não fosse sobre a modernização pela qual a tv passava, melhorando de qualidade a imagem e ganhando no quesito interatividade. Esses horrores de nomenclatura para a antiga caixão de visão me deixaram nervoso e confunso. - "-Será que ela vai entrar para a família? ou - Será que ela vai ter filhos? questões dessa natureza martelava na minha cabeça chata de matuto, que até então só conhecia o tubo de imagem 14". Dava no noticiário que a partir dessa inovação se podia comprar a roupa da atriz ou do ator, conforme a preferência, com uma simples apertadinha. Meu Deus, já imaginou meu vizinho querendo uma calça igual a minha? Vai de imediato ao Shopping-sala e arranca de minhas pernas as vestes sacerdotais que sempre me acompanham. E se a casa estiver com visitas, que não faltam? Olha a situação que esse povo me meteu!

Mas, no meu sonho a coisa era ainda pior, o que até pouco tempo foi móvel de sala, agora ela se transformava em um imenso monstro devorador de crânios humanos, cujas vítimas eram preferencialmente universitários. O abominável ser atacava na calada da noite, em lugares desertos e sem a presença da luz. Esperava o fim das aulas noturnas e surpreendia os desatentos estudantes. Ele possuia uma enorme boca repleta de dentes afiados, e com apenas bocada, arrancava as cabeças dos transeuntes.

Como diz o ditado, tudo que começça tem um fim. A terrível criatura passou a atacar os alunos de uma outra faculdade, da mesma cidade, com a mesma artimanha. Estes últimos eram mais atraentes e deliciosos. Andavam melhor vestidos, alguns até tinham carro, outros motos. Mas, não se livravam da ação esmagadora do bichano.

Com o tempo, percebia-se que, aos poucos o monstrengo diminuia de tamanho, talvez fosse a idade, ficando corcundo, reduzido. Suas forças era cada dia menor, perceptivelmente, pois algumas vítimas conseguiam escapar. Suas garras e seus dentes perderam seu aspecto devorador. Até que uma noite dessas, um garotinho brincando pelos arredores de casa, encontrou um aparelho velho de tv jogado próximo a uma montanha de lixa. Curioso, ela estava ligada. Passava o jornal da noite, que anunciava s seguinte matéria:
"Pesquisa realizada por estudantes da capital, mostra o baixo nível de aprendizado em faculdades particulares do interior. Ela ainda mostrava que os alunos possuíam pouca capacidade intelectual".

Levantei num salto, preocupado com a minha velha tv japonesa. Fui direto saber como ela estava. Graças ao divino, tudo estava no seu devido lugar. Mas, para me certificar, liguei a incansável companheira das horas vazias, normal. Excerto a enorme barriga do velho gordo. Tomei um remédio tranquilizante e voltei para cama. Dormi feito um anjinho, que sou.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sofreguidão x Solidão

Quero dizer-te
Com todo sincero sentimento
Que não te quero mais
A companhia chegou com tons alvejantes
E em mim fez morada
[O vazio da escuridão
Se afastou pra sempre]
A claridade se iluminou
de esperança

Por isso
Rogo-te que não desperte
O abismo incompreendido
Que lascera o coração
Agoniado e frágil
Foge pra teu leito obscuro
Oculto
Encarcerado em negros redemoinhos
Ainda na noite de trevas
Que insisti em ficar com ela

Contudo...
Basta de tua presença [a solidão]

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Conversas de mesa de bar

Zaca, Zeca e Zuca, são amigos de muito tempo. Várias pedras surgiram pelo caminho da união, mas todas retiradas a tempo de se conservar o laço que os uniam. Era comum os três se reunirem no bar da esquina para jogar conversa em copos de cerveja. Falavam sobre os mais variados assuntos, possíveis ou imagináveis. O limite da razão e do bom senso era estabelecido por Zuca, o único dentre eles que não se atrevia em colocar o líquido embreagador na boca, preferia um copo de leite frio e sem açũcar.

Eis o trecho de uma dessas prosaicas discussões filosóficas:

_ Baxim, traz uma gelada no capricho aqui pra nós.
_ Vão querer o quê pra tirar o gosto?
_ Tem queijo?
_ tem.

_ Foi no filme Bily the Kid que o companheiro do machão pedia um copo de leite? [Zaca]
_ Não, acho que foi em algum episódio do pica-pau. [Zeca]
_ Isso não importa, leite ou cerveja tudo é bebido do mesmo copo. [Zuca]

(Muda-se de assunto)

_ A moto velocidade é transmitida aos domigos, é? [Zeca para Zaca]
_ Acho que sim. [Zaca]
_ O Valentino tá na frente do campeonato? [Zeca]
_ Sim, ele e o companheiro de equipe tão pegando.[Zaca]

(Muda-se de assunto)

_ Acho que todo mundo é doido. [Zuca do nada tece esse comentário]
_ Como assim? [Zaca sem entender]
_ Eu quero disser que todos tem potencialidades para desenvolver algum tipo de loucura. [Zuca]
_ O que te faz pensar assim? [Zaca]
_ Li um conto em que uma mulher estava com o carro quebrado e pedia carona na estrada, pegou um ônibus que transportava senhoras insanas. Ela, a primeira, do carro quebrado, [ sim, eu sei (Zeca)], entrou e pediu que a levasse até um lugar onde tivesse um telefone. [Zuca]
_ E, aí? [Zaca]
_ E aí, que a levaram para um hospício com a alegação de que ela tinha obsessão por telefone. [Zuca]
_ É, pode ser, logo que a tarifa não esteja tão cara. [Zeca, risos]

(muda-se de assunto)

Como toda boa conversa entre ébrios filósofos, não poderia deixar de se falar em mulheres, de todos os modelos: bonita, feia; baixa, alta; gorda, magra,enfim, todos os arquétipos femininos, não deixando de fora nem a mulher de um dos amigos faltosos, ainda mais se esta tiver ancas largas, quadril fino como um violino, barriga de tanquinho, pernas bem torneadas e o resto do corpo em perfeito estado.

(Conversa retomada)

_ Você viu como chegou a Maria 01? [Zeca]
_ Ela já voltou? Não se deu com o trabalho? [Zaca]
_ Eu vi. Voltou um belezura que dá gosto. [Zuca]
_ E a Maria 02, mulher do Otário 01, ela chegou pra mim e disse: - Zeca, você pode trocar o meu óleo? e eu respondi: - será um prazer. ela novamente, - quanto custa a troca completa? - pra senhora, nada.
_ Vê se pode uma coisa dessas. Depois é o cara que é pra frente, e se o sujeito não pega, leva nome de frouxo. [Zaca]
_ Pena que eu não sei consertar motos. [Zuca]

(Encerra-se o assunto)

A conversa esfria com a chegada de outros frequentadores do bar. Tentaram reatar a prosa através de gestos e trejeitos, mas sem o mesmo resultado. Deram por encerrada a reunião solene daquela noite e seguiram cada um para seu lado.

terça-feira, 12 de maio de 2009

O Maranhão fica lá em casa

Quando cheguei da rua, me deparei com o Estado do Maranhão bem dentro da minha casa. Era um mar só. A água havia destruído todos os frágeis e pobres móveis, fruto de muita luta em salas de aulas. Sem ter muito o que fazer, me confortei e resolvi me aproveitar da situação. Fui à despensa e peguei a minha antiga vara de pesca, que a muito tempo não fisgava nada. Naquele momento o rio era só meu, os peixes eram só meus. Então, subi na estante e esperei pacientemente que um peixe fisgasse minha isca de mortadela, o que restava na geladeira para o almoço.
O tempo passava, a água só subia de volume, o que aumentava mais ainda meu desespero, já chegava na parte em que me encontrava. E o danado do peixe nada de aparecer. De vez em quando até sentia um beliscãozinho, eram as piranhas que não me davam sossego. Resisti. Quando a covarde carnívora se apropriava do meu pedaço de mortadela, trocava por um outro menor, para não dá o gosto. Continuei na árdua tarefa da paciência, uma hora dessas o bendito cujo apareceria e salvaria meu rango.
Com a demora desisti de esperar por aquele covarde das águas amazônicas que me serveria de alimento. Foi então que me vi ilhado. Ocorreu-me instantaneamente chamar pela defesa-vizinho, que passara pela mesma situação minutos antes. Não é que o ingrato se recusou a me ajudar, alegando que eu estava à bater pernas na rua enquanto meu casebre inundava. Não discuti, apenas recuei. Resolvi mesmo sem companhia, para dividir o pesado cargo da limpeza e de salguardar o resto dos móveis que flutuavam como bóia de câmara de ar de caminhão. Joguei a vara no canto.
Comecei vagarosamente pela cozinha, que estava um caos. O Fogão atingia a porta dos fundos, e ao vê-lo naquela situação deplorável, senti minha barriga dando sinal de esvaziamento total. Empenhei-me na tarefa, com o intuito de terminar o quanto antes. Esqueci os peixes e o covarde vizinho, quantas vezes não precisara de mim... Enchia um balde por minuto. Mas, meu esforço parecia não ter resultado, pois a chuva não cessava. Vali-me de todos os santos, esqueci o que mandava a chuva, se são Pedro ou se são José, na duvida pedi aos dois. E nada, parecia que eles não me escutavam, ou estavam revoltados como a minha descrença.
Após baldes e mais baldes derramados no ralo da pia, a cozinha estava findada. mostrava novamente seu chão ensebado. Renovei a coragem e fui para o quarto, cuja situação estava a mesma. Terminei em poucos instantes. Passei imediatamente para a sala, o último cômodo. De onde estava só vinha o alto grisalho da cabeça do Bonner dando plantão extra, noticiando enchentes por todo o Brasil, dos desabrigados do Maranhão. Quase pedi para falar da minha situação: "Matuto do sertão central, sem eira nem beira, se encontra inundado dentro de seu próprio casebre". Ficaria famoso com minha desgraça. mas teria meus quinze minutos de fama
Por volta do meu dia, foi que dei fim com a operação 'Salvar-me a mim mesmo'. O corpo doía junta por junta, nunca me esforcei tanto. Mas valeu a pena, sentia-me um bombeiro aposentado.
Resolvido o problema da enchente caseira, vi-me sem nada para matar àquela que me devorava roendo tudo por dentro. O sofrido dinheiro ganho com aulas insuportáveis de burroguês, acabara ainda na semana do pagamento. O rio não estava para peixe.
Lembrei de guardar a vara que ficara jogada no chão da sala. O anzol seria uma ameaça de captura para mim mesmo, que não sou peixe, como o Romário. Peguei a danada e a puxei. Estava presa atrás do sofá. Empurrei-o para desprender e arrancar a linha. Quando finalmente consegui trazer o anzol, vi surpreendentemente um peixe fisgado pela isca, um enorme tucunaré de papo amarelo. Nem pude acreditar naquela visão, pensei que fosse fruto da minha fome. Agradeci a todos os santos, em especial a dupla infalível, são Pedro e são José, o Batmam e o Robim, das horas difícies

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Balada da solidão

Faz assim...
Chega sorrateira
no cantinho da solidão
e diz no meu ouvido, ilusão

Faz assim
Diz teu nome não
Deixa o silêncio falar
E nós dois calar

Faz assim
No final apaga as luzes
e vai embora sem me levar
Parte morna(atônita) de mim.

Faz assim
Quando findar o canto
Cala-te e escuta-me
Com sofreguidão ao meu pranto

Faz assim
No dia seguinte
não lembre do que fui
sinta o que viveu
vista a realidade
e cubra-a de tons verdadeiros

Assim se faz
Se sente, se lembra


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Plantão 24 horas

Boa noite. Entra. Tudo bem? Como foi seu dia? Posso imaginar pela expressão do seu rosto. Penteado novo. Ficou mais jovem. Esse perfume também é novo? Você não me disse que ia mudar. Gostava mais do outro. Sei que mudar às vezes é legal. Mas, sei não! Gosto que permaneça como te conheci, menos o estado que você tava. Ainda lembro de tudo. Direitinho. Não, deixa eu falar. Me faz bem. Por favor?! Tá, não vou insistir. Tá chatinha hoje. Esse pode ser?. Chegou ontem. Eu encomendei ao seu Léo, do bar, da esquina. Relaxa, esquece um pouco o outro. O gordo. Sim, mas tenta disfarçar. Se não vai mancar tudo.
Você reparou? Comprei a cama que você queria. Deu. O rapaz deu um desconto bacana. Obrigado. Um dia te devolvo. É que a situação não muito boa.deve ser essa crise que tão falando. Já te falei que não pego mais trabalho. Deixei essa vida. Sou exclusivamente seu. A não ser, que a senhora não queira mais. Desculpa. Senhora é mais educado. Deixa eles lá. tão ruim na escola? Bota no reforço.
Vem cá. Deixa eu te beijar. Tá bom, eu espero. Sempre do seu jeito. Não precisa passar na cara. Peça nova. Foi pra mim que comprou?. Não sou convencido. Adoro essas coisas. Conheço meu potencial. Deita. Hoje quero diferente. Por favor! Só uma vez. Tá bem, o de sempre. Feijão, arroz e um pouco de lasanha. Tô indo. Tá espetacular. Deve ser o perfume novo. Não quis dizer isso. Floresta negra, flocos, chocolate, prefiro esse. Eu?! Falso?! Não. Agora é a sua vez. Também quero me divertir. Tudo bem, diária dupla.
Pronto. Quer mais?. Se quisesse ainda tinha fôlego. Duvida?! Quer que eu prove? Você me conhece.
Por isso tá tão preocupada? Sim, falei. Tá tudo certo. Passei todo o esquema direitinho. Modelo do carro, hora do final do expediente, trajeto. A foto? mostrei. Fica calma, não sou amador. Claro. Disse que não queria dor. Tá com penonha? Ora, você fala assim! Até parece que não quer se livrar da mala. E os menores? Deixa pra lá o escambau. E Eu? Vou morar com eles não. De jeito nenhum. O que é que tem? Ainda pergunta. Eles já tão crescidos. Coração dos outros é terra que ninguém sabe. Manda eles pra casa da vó. E o apartamento da Beira Mar? Já tá pronto? Não aguento mais esse muquifo. Porque não é você. Essa podridão. Todo dia a mesma coisa. Tá me chamando de vagabundo? Já te falei porque não trabalho. Ora, ele descobriu tudo e queria me matar. Se era eu, melhor que fosse ele. Tava amoladinho. Pegou na garganta, bem no meio.
Certo, Descansa. Fica calma, vai dá tudo certo. Disfarça, não deixa ele notar nada. Tchau. Eu ligo antes do esquema. Vou. Tenho que ajudar. Cara de corno com medo me excita.

Plantão 24 Horas

Bandidos são mortos durante tentativa de assalto ao presidente do grupo Machado. O revolver do que apontava para o empresário falhou e seu comparsa não acertava o alvo. Os policiais trabalham com a possibilidade de pistolagem. Os seguranças do complexo empresarial reagiram atirando nos elementos, deixando ambos baleados. O mais inesperiente ainda foi levado para o hospital, mas morreu no caminho.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Homenagem a Boal

Quando o público, composto por pessoas comuns, tipicamente cotidianas, se viu finalmente como protagonista da fabulosa peça da vida, Deus resolveu ceifar a vida de um dos mais célebres gênios do teatro Brasileiro, responsável por colocar o povo no centro dos palcos.
Há heróis em toda parte, em cada esquina. Heróis, do modismo, da cópia repetida de várias outras versão do inacabado, idolatrado por centenas de intelectuais empiricos. Existem raras pessoas que mesmo diante da descrença do amor à vida, acredita na essência do ser humano. A palavra esperança, tem significado singular na arte do viver.
Então, o que faz de um ser normal feito de carne e osso, um herói? É unicamente o fato da oportunidade que se dá aos humildes de se mostrarem capazes. Individualismo, conceito retrógrado, perdido nas águas do tempo.
Deus, não permite pessoas luzentes se enraizar na terra, edificar-se.
O teatro do oprimido surgiu em meados dos anos 70, momento em que o Brasil passava pela intransigência da ditadura truculenta. Tinha como objetivo a abordagem de temas simples, como o cotidiano. Sua principal inovação era a participação em massa do público, que era pego de surpresa, passando a fazer parte do elenco, fundamental para a continuação do espetáculo. Boal queria mostrar para os diversos públicos que o teatro é composto pela simplicidade e a engenhosidade do talvez, anônimo.
Sua presença sem dúvida fará falta, mas seu trabalho permanecerá como protagonista nos grandes palcos do gira-mundo.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

A vingança

A vingança

Socorro, Socorro! Uma multidão de muriçocas assassinas me atacaram ontem, por mais ou menos, a noite inteira, com seus poderosos ferrões, picando todo o meu corpo, sem dispensar até meu rosto. Meu sono, raro e frágil, temia em se aproximar, pois as malvadas faziam todo tipo de ameaça.
Foi então, que meu letargo companheiro das horas lúgubres, as desafiou para um combate direto, cujo prêmio seria meu sangue para ela, ou meu descanso para ele. Nesse momento saí de cena e fui para a cabine de honra, assisti de camarote a ferrenha luta travada por aqueles destemidos princípios de gladiadores.
Eles empunhava suas armaduras calmamente, ao passo que adquiriam concentração; peça por peça era colocada cuidadosamente para não ocorrer erros fatais.
Tudo pronto para a partida, o juiz autoriza para o início, o Flamengo parte em direção ao gol. Fortaleza recua, indefeso.
O companheiro sono solta seu poderoso e fatal sonífero das insônias profundas, tentando no primeiro golpe aniquilar seu oponente[..]a ardilosa muriçoca ranhia, que com sua leveza conseguiu desviar e se safar. Em seguida, preparou um contra-ataque, o zunido garganta de estéricas, capaz de alcançar léguas, e de acordar o soneca dos sete anões, e o lançou na direção do gladiador dos sonos profundos que conseguiu defender com eficácia.
O combate continuava empatado, só o Flamengo fizera um gol com o Ruan de cabeça no canto esquerdo, no alto do ângulo esquerdo, logo o mais baixote do time.
O juiz da luta decidia com seus assessores os destinos da emplacável luta; se deixava pelo embate, ou se haveria mais um roud, e por três votos a um, foram novamente para a campo de batalha.
Uma luz forte e branca surge do lado esquerdo do rinque, minha cama, era Maria Madalena que viera dos céus intervir na 'guerra do sono', e implorar pela paz e o sossego dos seres humanos, dando o direito das sanguessugas de se alimentarem durante o dia o sangue dos desapercebidos
A luz apagou-se, o zunido se foi para o além, a calma retornou.
A chuva lentamente foi chegando com a frieza típica do inverno; o tilintar das gotas nas telhas; e derrepente me vi dormindo feito anjo, que sou. ao longe, muito longe o grito da vitória do flamengo sob o Fortaleza por três a zero.