terça-feira, 26 de maio de 2009

O último Pau-de-arara

Nobres Leitores do meu coração, tenho uma boa notícia a dá-lhes; conquistei o sofrido mérito da casa própria. Nunca mais vou pagar aluguel e ter que dá satisfação do cuidado da casa do dono. No dia do pagamento sempre é aquele ritual, às seis e meia em ponto, lá estava o maldito carrasco a esperar que eu acordasse e levar o suor do mês inteiro. Mas, de hoje em diante posso dormi até mais tarde nos dias 10 de cada mês e nem os terríveis pesadelos que antes tinha, quando o dinheiro estava em recesso, não terei mais. Bato no peito orgulhoso e grito bem alto, moro em casa minha. Pois bem, aproveitarei o causo e vou narrar o acontecido no primeiro dia que adentrei na minha mansão.

Era quase meio dia, hora em que as almas lá no sertão vão visitar os solitários, mas aqui na cidade não tem, graças a Deus. Mesmo sozinho entrei não receie e venci o obstáculo do medo. Cabra macho do interior que sou, honrrei a cabeça chata que herdei de papai e entrei corajosamente na espreita e com olhos de gato espantado para algum eventual risco que viesse a ocorrer-me. Tudo tranquilo, nenhum mostro se aproximou de mim, ou mesmo uma sombra maligna veio tirar meu sossego.

Passado o susto, tratei em me tranquilisar. Fui conhecer a casa por inteiro e nos mínimos detalhes. Entrei no primeiro quarto, sai direto para uma despensa que dava passagem para um outro quarto, talvez para empregados, que dava passagem para uma área aberta e sem telhado. Continuei a caminhar pelo vale de cômodos que me aguardava. Eram tantos que me assutei. Teria que chamar o corpo de bombeiros para a limpeza ou talvez o exercito.

Ainda caminhava, me via agora num labirinto, perdido. Comecei a ficar nervoso. Receie nunca mais encontrar a saída e morreria de fome e sede na minha própria casa, que tanto batalhei para tê-la, economizando moeda por moeda, tendo que matar um leão por dia, me via ameaçado por essa ingrata, tanto dedicação para nada.

Sentei-me no canto de uma das paredes alvas, como o céu. O suor escorria pelo meu rosto feito cachoeira. Minha respiração funcionava imitando a de um cachorro. Também pudera, um matuto nascido e criado em casa de taipa de dois vãos, como é que se localizava num castelo daquela magnitude. Achei até normal a estranheza. Sentia falta do fogão a lenha, o cheirinho bom da fumaça a entranhar na roupa, a paisagem da capoeira na frente da casa. O burrico a relinchar ao pingo do meio dia. Acordar de manhã cedo para pegar água na cacimba. Não haveria nada mais disso. Passarei a viver trancafiado entre essas paredes e o portão da frente sempre com o cadeado passado a chave. Ficaria apenas a lembrança dos tempo idos no sertão, agora vividos apenas aos sábados e domingos. Mas, me acostumarei.

Passado o estado de transe, me encontrei deitado no chão da cozinha a delirar com um febrão. Com muito esforço enxuguei o rosto e levantei-me. Com os olhos rasos d'água segui em direção a sáida. Tomei o rumo da rua e peguei o pau-de-arara direto para minha terra.


Dedico esse texto a um homem exemplo de dignidade e força de vontade, capaz de fazer qualquer coisa para seus semelhantes. José Luís de Melo.

3 comentários:

  1. REMULO ate ficaria assim morando numa casa dessa mas dessa vez achei legal voce ter homegeado seu pai


    ass MAURO

    ah voce e muito louco como sempre

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  2. Uma casa dessas até eu queria morar, mas um matuto como você certamente não gostaria. Se você quiser eu poso trocar minha casa na sua.

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  3. Cara lembra um pouco meus primeiros dias em Fortaleza e em Quixadá também os quais eu queria a todo momento voltar para casa.
    teu texto é muito bom, parabens.

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